"Se o Brasil considerar que tem que
mudar de posição, mudará de posição", declarou o assessor especial
da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, a
um grupo de jornalistas.
Garcia, que está na 19º Cúpula
Ibero-Americana, no Estoril (Portugal), explicou que diversos
elementos devem ser examinados, entre eles a participação popular
nas eleições hondurenhas, de 61% segundo os números mais recentes
divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral de Honduras.
"Esse primeiro elemento é essencial,
porque vai influenciar a taxa de legitimidade da eleição", disse o
assessor.
Segundo Garcia, também será
importante "saber se o senhor Porfirio Lobo se dirigirá ao
secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA)" e se
vai considerá-la como "uma interlocutora legítima, ao contrário do
que fez o Governo golpista".
Para o assessor da Presidência,
"esses sinais permitiriam ir avaliando a situação e decidir os
próximos passos", embora, em sua opinião, tudo deva ser debatido no
marco da OEA.
Além disso, Garcia falou que, para
considerar Lobo como um "interlocutor legítimo", deverá haver
"gestos na direção de uma solução democrática e legítima para o
problema hondurenho".
No entanto, destacou que "neste
momento, os gestos teriam que ser muito poderosos, para superar o
fato de que as eleições são ilegítimas".
O assessor do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva negou que isso signifique que o Brasil reviu sua
posição inicial, que foi de absoluta condenação ao golpe de Estado
que derrubou Manuel Zelaya em junho passado e também de não
reconhecimento do processo eleitoral.
"Por um lado, consideramos a eleição
ilegítima, mas se houvesse uma fortíssima participação popular,
também não poderíamos ser indiferentes a esse fato político",
apontou Garcia, para quem o Brasil não é e nem pretende ser "o juiz
da situação hondurenha".
Sobre a possibilidade de que a Cúpula
Ibero-Americana adote uma declaração especial sobre a crise de
Honduras, disse estar "quase convencido" de que haverá uma solução
de consenso, que "deixe de fora alguns problemas, mas recolha a
condenação ao golpe".
Segundo Garcia, as diferenças entre
os países ibero-americanos não são em relação ao golpe de Estado,
que foi condenado por todos, mas quanto aos "caminhos a seguir rumo
ao futuro" após as eleições deste domingo.
O assessor inclusive comentou que a
restituição do presidente Zelaya no poder, que foi um ponto
indispensável para muitos dos países ibero-americanos, poderia
deixar de ser uma condição.
"Quem deverá decidir isso é o próprio
presidente Zelaya", disse.
Garcia também respondeu às
declarações do presidente da Costa Rica, Óscar Arias, que criticou
hoje a "dupla moral" de países que, como o Brasil, reconheceram o
resultado das eleições no Irã e não o fizeram com Honduras.
"É uma comparação absolutamente
improcedente", porque as eleições iranianas foram convocadas por um
Governo legítimo e, no caso de Honduras, quem o fez foi "um regime
golpista", afirmou Garcia.